por Eduardo S. Forbes
Conheci primeiro as imagens produzidas pelo Sergi Ronald. Sim, esse é o nome que o Ronaldo usa no Facebook, onde eu administro um grupo de fotos sobre o Rio em que ele é o maior colaborador. Não estou falando apenas sobre a quantidade, mas sobre a qualidade de suas fotos. Quando imaginamos o 5521RJ, pensei logo em entrar em contato com ele e pedir algumas de suas fotos para ilustrar o site. Logo, comecei a saber mais e mais sobre ele e pouco tempo depois estava seguro que, mais do que um excelente fotógrafo, o Ronaldo tinha uma História para contar.
Meu nome é Ronaldo Silva, morador da Rocinha no Rio de janeiro, onde vivo há 30 anos. Vim da Amazônia, de Belém. Vim por conta da beleza da cidade, sua geografia, seu clima e tudo mais que aprendi lendo em livros e jornais ou escutando nas lindas canções que essa cidade ganhou de gênios como Tom Jobim e tantos outros. Foi paixão mesmo antes da primeira vista!
Amo morar no Rio. Hoje é ainda um privilégio, mesmo com medo das mudanças do futuro. Conheço muito bem todos os cantos da cidade. Trabalho como motorista particular, faço transfer e outros serviços de transporte pela cidade.
Quando eu cheguei por aqui decidi me tornar atleta amador, mesmo trabalhando em escritório naquela época. Comecei por impulso e logo percebi que correr pela cidade era a melhor maneira de conhece-la em detalhes. Tudo me encantava.
Em 1988 ganhei um ingresso de presente. Era o show da Tina Turner. Lá, me vi cercado por 180.000 pessoas vibrando com a mesma energia, contagiados pela voz, pelo show, mas principalmente pelo prazer de viver no Rio. Senti um êxtase profundo, como nunca havia sentido antes. Nunca usei drogas, nem experimentei, mas a sensação daquela noite foi alucinante. Naquele dia tive certeza de estar morando no melhor lugar do mundo, na minha cidade de coração e descobri que eu já era um carioca.
Continuei correndo e, com o tempo, tornei-me um atleta de alto nível. Conheci muita gente bacana e cheguei a correr 60 km por dia, orientado por um técnico, acompanhado pela minha equipe. O alto rendimento veio junto com uma fase complicada, quando perdi meu emprego. O lado bom é que foi nessa época que descobri que o carioca sabe ajudar como ninguém. Fui cercado de amigos, de atenção e dos cuidados que eu precisava para seguir em frente, correndo, sempre.
Um dia, atleta de ponta e desempregado, fui correr na Floresta da Tijuca. O acaso me fez encontrar a Fernanda Keller, triatleta vitoriosa em todos os grandes desafios mundiais. Um ídolo. Na maior cara de pau, me aproximei dela e pedi qualquer oportunidade que ela pudesse me dar para trabalhar com ela. Deixei meus contatos e segui correndo. Ela ligou!
De repente eu era, orgulhoso, parte da equipe da Fernanda Keller. Uma pessoa ajudava com a bike, outro com o mar e eu me tornei responsável pelo que a Fernanda fazia de melhor: correr, Eu dava ritmo para a Fernanda. Três vezes por semana corríamos pelo menos 35 km. Gravamos um documentário nessa época: Espírito Campeão! Mais uma conquista e mais uma imensa felicidade.
Ainda desempregado, comecei a desenvolver um trabalho também com a Marcia Narlok, a maior maratonista brasileira de todos os tempos. E mesmo desempregado, trabalhava duro com as 2 atletas que eu mais admirava, correndo cerca de 60km por dia. E acreditem, eu era muito feliz!
Nessa época uma marca esportiva me desafiou a vir correndo de São Paulo para o Rio. Minha vida era correr por esse país. Meu destino era o Rio, o esporte, a música, os dias de sol, nublados ou de chuva, o Rio antigo, o centro, a zona sul, as pessoas.
A fotografia aconteceu por acaso. Comprei um Nokia N95 que levava comigo no meu dia-a-dia. Toda vez que encontrava uma vista que me tirava o fôlego registrava no meu celular. Compartilhava as fotos no Orkut (antes do Facebook acontecer por aqui) e as pessoas me perguntavam sobre a qualidade do meu equipamento. Eu sorria e seguia registrando o Rio em imagens.
Minhas trilhas me levavam para todo canto. Amanhecia na Pedra da Gávea, Pedra Bonita, Pico do Papagaio, Cocanha ou qualquer outro lugar só para registrar a luz e as sombras da cidade maravilhosa. Hoje uso uma câmera profissional, uma Nikon D7200, que ganhei de presente. Gosto de impactar e de mexer com a emoção das pessoas. As paisagens ainda são uma paixão, mas somei a elas monumentos, ruas, vilas e vielas, praças e tudo mais que consiga tirar o fôlego. E no Rio, isso não é muito difícil.
Recentemente, a Beatriz Jaguaribe selecionou 4 fotos minhas para fazerem parte de um livro sobre o Rio que será lançado apenas em Nova York Uma honra e um incentivo. Hoje corro em direção a fotografia. Mostro um pouco da realidade e torço para que a cidade cuide melhor dos seus filhos cariocas, com menos crianças nas ruas e com mais esporte, mais educação e mais vitórias.
entrevista concedida em 22 de dezembro de 2016, Rocinha.
Sempre admired as fotos de Sergi Ronald! Uma pessoa muito talentosa e que, neste periodo crescente de reconhecimento das suas fotografias, o Ronaldo Silva nunca perdeu a humildade e o reconhecimento de suas origens. Eu gostaria muito que lhe fosse dado a oportunidade de publicar o seu livro sobre a beleza da cidade do Rio de Janeiro e um outdo sobre as maravilhas do estado do Rio de Janeiro.